Conan Osíris venceu o FC 2019 em Portimão, no sábado passado com uma canção que longe de agradar a todos conseguiu pôr toda a gente a pensar que os telemóveis podem ser cantados. Críticas boas ou más, o rapaz de Adoro Bolos (editado em dezembro, 2017) chamou a atenção dos mais atentos às novas tendências nacionais e levou-o a ser convidado ao FC. Silk (EP), Música Normal e Adoro Bolos são os trabalhos anteriores a "Telemóveis"; este último, considerado pelo BLITZ o 2º melhor álbum nacional de 2018. Canções como Borrego, Celulitite ou 100 Paciência foram sendo descobertas pelo grande público nas semanas que antecederam o Festival e ninguém ficou indiferente.
Após a vitória de Conan e do seu bailarino no FC, e logo a seguir à sua presença no programa da Cristina, a imprensa não tem parado. O que se diz sobre o "rapaz do futuro?".
O jornal online Observador dedicou-lhe vários artigos, mas aquele que mais nos fala sobre o Conan Tiago Miranda é talvez "As histórias sobre Conan Osiris contadas por quem o conhece" (3 de março). Neste artigo, são entrevistadas pessoas que se relacionavam com o cantor antes do estrelato; desde a melhor amiga até à "patroa" da sex shop onde trabalhava. Afinal, o rapaz bebe leite quando vai aos bares: "O Tiago é um gajo que não bebe álcool, não fuma, e não vale a pena dizer, que ele não se droga, como é evidente. Ele é todo puro nesse sentido". Mas é muito disciplinado no seu trabalho, aliás, como a sua música o prova, fruto de um cientista que mistura sons numa complexidade cujo resultado agrada a muitos. Essa mistura é bem expressa pelo Diário de Notícias (3 de março): "as manhãs de sábado eram passadas a ouvir Amália, kizomba ou a dupla Leandro e Leonardo, a banda sonora para a mãe aspirar. Cresceu entre Lisboa e o Cacém e mais tarde dividia o seu gosto musical entre o hip-hop na MTV e, mais tarde, nomes como Björk." Em Conan Osíris, nome artístico inspirado na série pós-apocalítica Conan, o Rapaz do Futuro, e o deus superior dos egípcios, Osíris, o visual não é esquecido, "é uma criação do amigo do liceu Ruben de Sá Osório. Um estilo inspirado nos heróis de banda desenhada japonesa ou no hibridismo dos androides. Na noite de sábado, as garras com que apareceu foram o novo toque ao visual que já tinha dado nas vistas "pelas colheres na cara" como muitos se referiram à máscara que usou. (DN)"
E talvez seja essa imagem controversa que tem chamado a atenção de meio mundo. Na internet, os vídeos e comentários multiplicam-se. Após o FC, Portugal entrou diretamente para a 3ª posição na APP My Eurovision Scoreboard, subiu ao 7º lugar nas casas de apostas e a imprensa internacional manifestou-se, tal como a Billboard (23 de janeiro) já o tinha feito: "Osiris’ music has been hailed as a calling card for Portugal’s cultural mix, and been described as the sound of freedom."
O jornal espanhol ABC (4 de março) escreve: "de Castelo Branco, onde estudava antes de dar o salto para Lisboa, não parou de ampliar a sua bagagem catapultada pela fusão que se vive nas zonas como o Intendente, a Mouraria ou o Cais do Sodré, nas quais o reggae dá a mão aos lamentos de Amália Rodrigues ou aos ecos do Sri Lanka." Já El diario (3 de março) escreveu sobre Conan: "mistura ritmos electrónicos com sons mais orientais e uma voz aflamencada, com uma letra que o autor preferiu não explicar mas alusiva à perda e à saudade portuguesa" - uma descrição não muito diferente da realizada pelo 20 minutos (Espanha) que se refere a Conan como o trangressor difícil de definir.
Mas não só os nossos vizinhos que falam de Osíris, em França, o 20 minutes escreve (4 de março), "o ovni musical que pode trazer uma nova vitória a Portugal". No entanto, e antes que a música de Conan chegue mais longe, as opiniões continuam por cá. Numa tentativa de explicar a canção, Rui Tavares (Público, 4 de março) diz: "Para quem ainda não viu ou ouviu, a música ... Tem um refrão — não é bem um refrão, mas para simplificar ... É uma pergunta: “Quem mata quem? Quem mata quem?”. E uma resposta: “nem eu sei” — porque a pergunta é acerca de se é a saudade que me mata ou se quem mata a saudade sou eu. Ao mesmo tempo, a música é sobre tecnologia, ou melhor, sobre os telemóveis do título como instrumentos para, entre coisas, matar saudades, e sobre a relação de amor-ódio que estabelecemos com estas ferramentas (em que provavelmente, mais do que num jornal impresso, o leitor está a ler estas palavras). O cantor, compositor e letrista fantasia sobre esmagar e escangalhar o telemóvel, suspeitando nós que nunca conseguirá definitivamente fazê-lo. E fá-lo sobre um fundo sonoro de música tradicional de várias partes do mundo, onde se nota sobretudo um gamelão indonésio, por cima do qual estende a sua voz de fado. E como escreve Manuel Clemente (P3, Público, 4 de março), "Gostos musicais à parte, é importante referir que o Conan é apenas um cidadão que está a exercer a sua liberdade de expressão sem prejudicar ninguém. Nenhum de nós é obrigado a gostar e, muito menos, a ouvir. E talvez seja aqui, mais do que no estilo afro-fado-progressivo-tribal, que está a origem de tanto amor e ódio. Esta atitude de "não me interessa o que os outros pensam" provoca admiração em quem se revê nesta forma de abordar a vida, mas, ao mesmo tempo, causa inveja em quem não tem coragem de ser ele próprio."
E isto ainda agora começou!